AVENIDA DR. MÁRIO RODRIGUES PEREIRA
Saindo do Largo da Matriz, atual
Praça Tiradentes, havia uma estrada que servia de passagem para carros de boi e
tropas, o qual dava acesso ao sítio das Bananeiras, hoje bairro Santa Matilde.
Este trecho fazia parte da Estrada Real, que liga Rio de Janeiro à Vila Rica
(Ouro Preto).
A capela de Nossa Senhora do
Carmo, construída no século XIX, situada no início da rua dos Pinheiros, hoje
Benjamin Constant, influenciou o núcleo residencial à sua volta. Perto da
capela foi construído um sobrado, que abrigou a sede da Câmara Municipal da
Vila de Queluz, neste sobrado residiu por longo tempo o Capitão José Albino de
Almeida, conhecido por Zeca Albino.
Este antigo caminho recebeu o
nome de rua do Carmo, devido à capela, e mais tarde passou a se chamar rua
Nossa Senhora do Carmo.
Em 1894, alguns rapazes criaram o
Grupo Cênico dos Carijós e em 1895 construíram nesta rua um barraco coberto de
zinco, com paredes de paus roliços e taquara para apresentarem seus
espetáculos. Neste mesmo ano, foi construído um prédio com dois pavimentos
neste mesmo local, abrigando o Teatro Santa Cecília. Atualmente aí se encontra
o Clube Carijós.
A rua cresceu e foi arborizada. O
cemitério, que ficava no interior do adro da Matriz foi transferido para um
morro atrás da capela do Carmo. Atrás da capela havia também a fonte do Carmo,
que servia água fresca e limpa.
Em 1912 a rua do Carmo recebeu
melhoramentos, neste ano foi fundado o Clube Carnavalesco Carijós, com sede
inicial localizada em casa na esquina com a rua Assis Andrade. Em 1917 o clube
adquiriu o prédio do Teatro Santa Cecília, onde permanece até hoje.
Em 1923 a rua recebeu o primeiro
ginásio masculino da cidade, o ginásio Queluziano, que possuía seu Tiro de
Guerra. A sede do ginásio foi ocupada posteriormente pelo Hospital Nossa
Senhora do Carmo, e adiante pela delegacia de polícia. Nesta rua também
funcionou a escola do Professor Virico, e após a revolução de 30 a rua passou a
se chamar avenida João Pessoa. Em 1937 lhe foi dado o nome de avenida Benedito
Valadares, depois de 1954 voltou a ser avenida Nossa Senhora do Carmo e
atualmente, em homenagem ao grande médico e homem público tem o nome de avenida
Dr. Mário Pereira.
Rua famosa e cheia de tradições,
já foi palco do “Passo da Semana Santa”, abrigou chafariz, igreja, festas
religiosas, farmácia, padaria, teatro, e também o prédio da escola Domingos
Bebiano, construído em 1926. Grandes personalidades residiram aí como os
presidentes da Câmara Zeca Albino e Aprígio Andrade, o prefeito Dr. Mário
Pereira, Seu Virico, Oliveiros de Souza, Chico Barão, as famílias Albino,
Albuquerque e Campolina.
Atualmente no local do antigo
paço municipal, ergueu-se o Palácio da Prefeitura. Está situado também o
moderno prédio do Clube Carijós, onde funcionou o Teatro Santa Cecília e o
Clube Carnavalesco Carijós. A praça Nossa Senhora do Carmo, no fim da avenida
nos remete à nostálgica capela do Carmo, com seus profetas e lendas.
Fonte: Jornal Panorama, Ano I, nº 50-
Março 1979
Fonte: Álbum 1: fotos antigas de Conselheiro Lafaiete-MG. LEITE, Etelvino, 2001
RUA BARÃO DE SUASSUÍ
Na época da Vila Real de Queluz,
os romeiros que iam para Congonhas cumprirem suas promessas, no Jubileu do
Senhor Bom Jesus de Matosinhos, passavam por esse caminho que, por longo tempo
se chamou a rua Dos Dois Barrancos, hoje atual rua Barão de Suassuí. A origem
do nome é devido à grande erosão formada no fim da rua, próximo à capela de
Santa Efigênia.
Um de seus primeiros moradores
foi José Inácio Gomes Barbosa, o Barão de Suassuí. Homem de posses, construiu
em 1787 um grande solar, com salões que serviam para receber a nobreza e a
elite social da Vila e em seguida da nova cidade de Queluz. Outro morador
importante foi o vigário Cândido Tadeu Pereira Brandão, primeiro padre da Vila,
que construiu em 1948 seu solar no local à frente da Matriz. Inicialmente os
belos sobrados tendiam a ser construídos em direção à Matriz.
Na década de 10 (1910), a rua
recebeu o recém-formado Queluziano Futebol Clube, que ali construiu seu campo
de futebol. Aos domingos o povo ia assistir os jogos do time dos Barrancos,
principalmente quando o jogo era contra o principal adversário, o Guarani. Era
uma verdadeira festa, de forma que o povo torcia e aplaudia os craques Machado,
Lamartini, Valente, Mário Rodrigues Pereira (prefeito), Hernane, Vassourinha,
Robson Lage e tantos outros. Anos depois o clube encerrou suas atividades e o
campo foi abandonado. A seguir outro clube passou a jogar ali, o campo também
servia para a garotada jogar peladas e em 1940 foi passado para o Automóvel
Clube de Conselheiro Lafaiete.
No fim da rua morava um senhor
conhecido pelo apelido de “Chico Grande”, devido à sua altura. Era devoto de
Santa Efigênia e, diante de uma promessa, se alcançasse a graça, construiria
uma capela para a santa. Supõe-se que tenha alcançado a graça, pois se dedicou
totalmente à construção, e com a ajuda de amigos, pôde ver em 1926 a capela e o
sino serem bentos, e a partir daí servir para realização de atos religiosos.
Hoje a capela está maior, de forma que deu nome ao novo bairro: o de Santa Efigênia.
São lembrados nomes de pessoas que
ali também residiam: Augusto Tadeu, pai do melhor jogador de futebol da cidade;
Avelino Dias Lana, o capitão Avelino da Guarda Nacional; D. Afonsina Lana, que
foi servente do grupo escolar Domingos Bebiano; Benjamin Granha, dono da
Agência Granha, incentivador dos automóveis na cidade e ainda presidente do
Tiro de Guerra 405; o Alagoas, arquiteto e construtor, com trabalhos
inteligentes em prédios, inclusive construtor do imóvel onde funcionou o Jornal
Panorama (rua Tavares de Melo, 129), em 1928. Havia também tipos populares como
Antônio da Lucrécia, que fazia discursos pelas ruas; Durvalino, que quando
bebia assustava a meninada; Ozório, músico e diretor da Sociedade Musical Santa
Cecília; o Clemente; José Pasqual, pai do ex-combatente Pavão e Afonsina
Ferreira.
Os velhos sobrados do Barão de
Suassuí serviram de sede provisória para várias entidades como o Clube Carijós,
a Prefeitura e o Fórum. O ginásio Monsenhor Horta funcionou por longo tempo na
ex-residência do Barão do Suassuí, além da Faculdade de Comércio, onde se
diplomou Antônio Luiz Perdigão.
Na década de 40 (1940), a
Sociedade Pró-Educação e o prefeito Mário Rodrigues Pereira construíram o
majestoso prédio para o ginásio Monsenhor Horta, que depois foi doado para a
sede do colégio estadual Narcizo de Queiroz.
Dr. Hélio Barbosa, Serafim Sana,
Dr. Francisco Rodrigues Pereira Júnior e outros, então diretores do Meridional
Esporte Clube negociaram a compra do Automóvel Clube. O prefeito Dr. Mário
Rodrigues Pereira, um dos patronos do clube, deu sua contribuição para que
fossem feitas grandes obras no local, tornando-o o campo denominado “Estádio
Dr. Mário Pereira”.
Essa primitiva rua foi também
trecho da estrada União Indústria, a qual ligava Lafaiete à Belo Horizonte. Rua
movimentada com colégios, indústria, comércio, estádio, igreja; a velha rua dos
Barrancos guarda a lembrança do tempo do Barão do Suassuí.
Fonte: Jornal Panorama, Julho de 1979
BAIRRO MORRO DA MINA
Morro da Mina era o nome dado à
colina que se localiza ao norte de Lafaiete, onde se pesquisava o ouro.
Inicialmente como grande produtor de manganês, ainda assim esse minério era
considerado de baixa porcentagem. Com o passar do tempo Morro da Mina passou a
ser um dos maiores produtores no mundo.
Antigamente a propriedade nada
valia, e foi vendida por Francisco Antunes Siqueira a Artur Fornazini em 1896,
e, somente em 1901 foi iniciada a exploração. No final deste mesmo ano a
propriedade foi passada para o grupo G. E. G. Fontes & Cia, já que a
exploração exigia maiores recursos financeiros para sua execução. Os primeiros
engenheiros a prestarem orientação técnica foram Lopes Ribeiro e Joaquim
Almeida Lustosa, este último continuou até 1921, ano em que a empresa foi
formalizada com o nome de Companhia Morro da Mina.
Durante a guerra na Europa, de
1914 a 1918, a mina exportou grande quantidade de minério, gerando sua
prosperidade. Em 1920, a United Steel Corporation teve interesse pela mina e a
Companhia Meridional, sendo sua subsidiária, tornou-se compradora da mina.
Quando o Barão de Queluz trouxe
água potável para a cidade, em 1880, os mananciais estavam no Morro da Mina e
por canalização eram trazidos até o Largo da Matriz, onde ficava o grande
Chafariz.
Em 27/10/1906 foi celebrado um
contrato assinado entre a Câmara Municipal e a Companhia Meridional, sendo que
esta última faria o abastecimento com águas oriundas do manancial da Mostarda.
A Companhia Meridional construiu uma grande caixa d’água para abastecer a
população.
De início, o armazém do Sr.
Castanheira era o único que abastecia a população com gêneros diversos, este
armazém, mais tarde foi repassado à Firmino Augusto Lana. Já o primeiro açougue
pertencia à José Bernardino.
A Escola Meridional foi uma das
primeiras escolas a funcionar na cidade, ela foi fundada 08/08/1915, e foi
organizada e mantida pela Companhia Meridional. O primeiro diretor foi o profº
José Augusto de Almeida, em seguida ocupou a diretoria Lúcia Maria Bandeira
Furtado de Mendonça, mais a frente, D. Geny Paes Sanna, e atualmente ocupa a
diretoria a senhora Sarah Sanna Sanella. A Companhia inaugurou um novo prédio
para a escola, a qual foi colocada no centro de belo e vasto jardim, com seção
de mineralogia, quadros e peças diversas.
O bairro, sempre socializado,
abrigava pessoas alegres e promovia festas culturais e esportivas. Nas festas
religiosas e também em outras, havia apresentação do coral regido pelo mestre
Abílio Dias, este coral se originou da Banda União Musical de São José (1918)
que era regida pelo profº José Augusto de Almeida. O salão social do bairro
serviu para animados bailes, festas e peças teatrais, mais a frente este local
passou a servir como espaço para aulas de catecismo, dadas pela saudosa D.
Ziroca. A maioria dos habitantes do
bairro era de formação católica. Havia antigamente uma capela de madeira, cujo
padroeiro era São José, esta capela era desmontável e devido ao pouco espaço
que nela havia, o Santíssimo era guardado em uma casa do lado. Hoje, a capela
que existe é de alvenaria e está subordinada à paróquia do Sagrado Coração de
Jesus, sob a orientação do Monsenhor Hermenegildo Adami de Carvalho.
Os carnavais do Morro da Mina
eram os mais animados, e, nos bailes havia a participação da orquestra local.
No centro da cidade o povo esperava o “cordão do Morro da Mina”, que os animava
na praça Tiradentes. Os animadores do cordão e do carnaval foram Chico Cardoso,
Antônio de Almeida e Antônio dos Santos. Outra atração carnavalesca era o
Bumba-meu-boi, sob a direção do Sr. João Paulino e a seguir do Sr. João de
Deus.
O bairro destacou-se também nos
esportes. O Meridional Esporte Clube foi fundado em 07/09/1922 e atuava num
campo deste bairro, já na década de 30 passou a atuar à Rua Barão de Suassuí,
no antigo campo do Queluziano. Atualmente neste bairro encontra-se o melhor
campo de futebol da cidade, com gramado e iluminação, pertencendo ao Mineiro
Esporte Clube.
Pessoas de todas as ruas e
bairros são lembrados pelos serviços prestados, dos quais estão os benfeitores
Chico Cardoso, Domingos Ramos, Paulino Ricieri, D. Virgínia Rodrigues dos
Santos, José Rosa de Lima e seu irmão Nestor, além destes, os antigos operários
Antônio Felipe Ferreira, e ainda, Serafim Sanna, que durante anos fez parte da
diretoria da Companhia. Desde que entrou, em 1915, ajudou a fundar a escola,
também incentivou a banda de música, apoiou o carnaval, o esporte e a igreja, e
ainda criou a biblioteca da escola, que tem seu nome como patrono.
Uma das características
apresentadas pelo bairro é a nomenclatura das ruas, que em vez de nome, possuem
números para identifica-las. Hoje já não existem as construções antigas, e,
novas casas, comércio, farmácias formam o bairro, que é ligado ao centro por
ruas asfaltadas.
PRAÇA GETÚLIO VARGAS
Localizada no final do caminho da
Estação, perto da travessia que separava a cidade de Queluz do novo bairro de
Lafayette, o local ficou conhecido por muito tempo por Largo do Castanheira.
Castanheira adquiriu grande área do terreno, que começava desde o alto do
morro, conhecido como Morro do Castanheira (atual conjunto do BNH) até ao
Boqueirão.
No local onde inicia a Avenida
Telésforo Cândido de Rezende ficava uma casa em estilo colonial, ao lado do
armazém. Nos fundos um grande rancho que servia aos tropeiros, que
transportavam cargas para o interior. Todo o comércio e movimento se
concentrava nas terras do Senhor Castanheira.
O movimento ferroviário fez
crescer o bairro do outro lado da linha férrea, fazendo com que grande parte do
comércio descesse para as proximidades da Estação. Após a Guerra do Paraguai, a
atual Rua Melo Viana recebeu o nome de Rua do Riachuelo e o Largo do
Castanheira passou a Largo do General Ozório.
O Largo, em franco
desenvolvimento, foi tomado por residências e comércio, e, em 1895 abrigou a
redação do semanário “Queluz de Minas”, que era dirigido por Luiz Leite. O
marco principal do Largo foi o Hotel Meridional, que segundo algumas fontes foi
construído por Zeca Albino. O prédio tinha status de local elegante, lá a
Companhia Meridional de Mineração manteve seu escritório na cidade. O hotel
possuía orquestra própria, por lá aconteciam bailes carnavalescos e
comemorativos, banquetes importantes, reuniões políticas e tudo quanto era elegante
acontecia lá. O hotel foi administrado durante longo tempo por Leonídio Dias.
Dr. Castilho Lisboa, jornalista e
advogado, manteve seu escritório no Largo, local que tempos depois recebeu o
nome de Tavares de Melo. Neste local funcionava também a papelaria e a
tipografia do Martinho, o armazém do Luiz Frische, mais acima a casa de
negócios de Firmino Vieira Júnior, onde futuramente foi instalada a primeira
casa de máquinas de costura Singer, gerenciada por Lalentim. Funcionou ali
também o jogo do bicho, que foi trazido para a cidade. O italiano Viscardo
Lourezioni, conhecido como “Barbado”, colocava uma caixa no alto do poste
contendo o nome do bicho que daria à tarde. Quando as apostas eram encerradas,
Barbado descia a caixa e anunciava o nome do bicho premiado. Neste Largo havia
também a farmácia do Chico Franco, que era ponto dos intelectuais e latinistas.
Na década de 20, no local onde existia
uma casa, foi construído o palacete da família Castanheira, que tempos depois
foi derrubada para a abertura da Avenida Telésforo Cândido de Rezende. Em 1927,
o presidente da Câmara José Narciso Teixeira de Queiroz iniciou o calçamento da
praça e a seguir de toda a cidade.
Devido à chegada dos primeiros
automóveis, foi colocada na praça uma moderna bomba de gasolina. Em frente ao
Hotel Meridional os “jahús” do Álvaro, Valentim e Careca, e depois os modernos
ônibus do Zé Amarelo faziam os pontos de suas linhas que iam até o Bairro Santo
Antônio. Na praça havia a casa de móveis de Samuel e a pastelaria de José
Henriques. Aquela praça recebeu o nome de Getúlio Vargas, e, na década de 50,
quando já era grande o movimento de ônibus urbanos e interurbanos, o então
prefeito Telésforo Cândido de Rezende resolveu construir ali uma estação
rodoviária, a qual foi demolida depois para a abertura da nova avenida.
Atualmente a praça abriga as
Rádios Carijós e Clube, o Clube Atlanta, restaurantes, farmácias, escritórios,
casas comerciais e o magnífico relógio público, doado pelo Rotary Clube de
Conselheiro Lafaiete. A praça moderna e movimentada conserva duas coisas do
tempo do Largo do General Ozório: O Hotel Meridional e o Sinal da Travessia,
com seu som interrompendo o trânsito.
Fonte: Jornal Panorama, Ano I, nº
51- Maio de 1979
Em 1866, no alto da colina, os
portugueses festejaram a conclusão da Capela de Santo Antônio. Inicialmente ela
não tinha a torre, em seu lugar havia um obelisco de granito, e na década de 40
foi retirado o obelisco para a confecção da torre. Haviam dois sinos do lado
esquerdo, nos quais eram jogadas pedras por meninos para ouvirem o som. As
novenas, rezas e festas de Santo Antônio são as mais populares da cidade desde
o século passado. Desde o tempo da Vila de Queluz, os leilões eram feitos por
“Canjica”, com músicas, fogos de artifício, canjica, pau de sebo e outros que
preenchiam o nosso folclore.
Em 1870 foi fundada a Irmandade de
Santo Antônio de Queluz, uma das Associações mais antigas da cidade que cuidava
e zelava pela capela e patrimônio, além de auxiliar aos necessitados com ações
de caridade. Joaquim Lourenço Baêta, o Barão de Queluz, foi um dos primeiros
provedores da Irmandade.
Em 1885 foi fundada no bairro a
primeira agência dos Correios, a qual funcionava em uma antiga casa da atual
Rua Cel. João Gomes, de propriedade da família Lôbo da Silveira.
Em 1905 chegaram à cidade as
Irmãs da Congregação da Divina Providência, e a elas foi doada uma pequena casa
e terreno para construírem um orfanato. Este imóvel foi doado pelo Padre
Américo Taitson e dali nasceu a mais antiga casa de ensino, o Colégio Nossa Senhora de Nazaré, construído em toda a
extensão da atual Alameda Oswaldo Cruz.
Também no início da colina, em
1904, foi fundada a Santa Casa de Misericórdia, atual Hospital Queluz. O
projeto do imóvel foi feito pelo jornalista Dr. Castilho Lisboa, sendo os
primeiros diretores Dr. José Caetano da Silva Campolina, presidente da Câmara;
Francisco de Assis Bandeira; João Gomes Ferreira; José Gerspacher e Francisco
Diógenes Baêta. Esta teve o apoio dos médicos Assis Andrade, Mário Rodrigues e
José Narciso de Queiroz. Defronte à capela foi construída pela Santa Casa, o
primeiro necrotério da cidade. O serviço
da entidade era feito pelas irmãs do Nazaré.
Em 24 de março de 1907 o bairro
comemorou a colocação da primeira caixa d’água, construída no governo do Dr.
Campolina. A inauguração teve festa com palanque de autoridades, bandas de
música, fogos e discursos. Já em 1919, o então presidente da Câmara, Cel. João
Gomes Ferreira inaugurou outra caixa d’água, localizada atrás da capela e que é
utilizada até hoje.
A escola noturna de Inácio, a
fonte de Santo Antônio, a casa de armarinho da síria libanesa Cecília e João
Gilelete e o açougue do Ozório foram os locais típicos do bairro. Os populares
do local eram Egídio Batista, Gervásio, Mário Zebral, Anêlo Deoclassiano, José
Ferreira, entre outros. Os Padres Américo Taitson, Padre Lobo e Monsenhor
Galdino mantinham residência no bairro.
Atualmente o bairro está
diferente, mas mantém o Hospital São Vicente, a Sociedade de Auxílios Mútuos, a
sede do Ex-Combatente de Conselheiro Lafaiete e grande comércio.
RUA BENJAMIM CONSTANT E RUA ARTUR BERNARDES
Ruas que faziam parte da Estrada
da Corte. Inicialmente foram construídas as primeiras casas e mais tarde estas
ruas eram utilizadas como caminho para chegar à Fazenda dos Amarais, que ficava
no atual Bairro Santa Matilde, de modo que o povo chamava este de Caminho das
Bananeiras.
Há dúvidas sobre o primeiro nome,
devido à pronúncia, alguns diziam Rua dos Pinheiros, e outros dos Espinheiros.
De forma que até nos livros de lançamentos da Câmara Municipal de Vila de
Queluz é encontrada as duas denominações acima descritas. Contudo tudo nos leva
a crer que o certo seria Rua dos Pinheiros, isto devido ao maior número de
registros com esta citação.
Nos Pinheiros surgiram os primeiros
fabricantes das Violas de Queluz, famosas em todo o país. Caetano Meireles e Augusto
Alves Campos possuíam ali suas fábricas de violas e violões. A rua iniciava ao
lado da Capela do Carmo, que já foi demolida, e possuía um acesso difícil, pois
seu lado direito era formado pela encosta de um morro. O trajeto era feito por
um boqueirão e na época das chuvas, os moradores passavam em um trilho, num
local mais alto, a fim de evitarem a lama. Da Capela do Carmo até a igreja do
Bairro São João, a rua era composta por pastos e chácaras. À direita havia os
terrenos do Zeca Albino, à esquerda o pasto que pertencia ao Sr. José Corrêa de
Figueiredo, que foi presidente da Câmara. O campo do Flamengo Futebol Clube
fica no terreno onde estavam os pastos. Havia também o pasto do Dr. Lustosa,
engenheiro da Cia Morro da Mina, que executou obras para a colocação de água
potável na cidade. Entre os moradores destacou-se José Silvestre de Freitas,
pelas suas ideias progressistas e trabalho em prol da comunidade. Entre as
obras que dirigiu estão as construções da antiga Santa Casa de Misericórdia - Hospital
Queluz, Colégio Nossa Senhora de Nazaré e a residência do vigário, Pe. Américo
Tait-Son. Também foi um dos idealizadores da primitiva Capela de São João, no
local onde hoje se encontra a igreja do Bom Pastor (atual Igreja São João). Outro
que também se destacou foi Alfredo Zebral, presidente da Conferência de São
Vicente, e deu grande contribuição para o lado social e católico da rua. Uma
das primeiras casas de negócios pertencia ao Braz, era um armazém formando um
pequeno empório, com variado sortimento. Entre as figuras de grande
popularidade havia o Pedro Siqueira e sua esposa Dona Firmina, que moravam
perto da capela; Izabelinha e seu Bonifácio, pais do antigo sapateiro Romeu
Menezes.
Em épocas passadas havia as
famosas festas de São João realizadas na Capela, com fogueira, leilão, rezas
juninas, e missa festiva no dia 24, tendo à frente o vigário Pe. Américo
Tait-Son, auxiliado pelos festeiros. Havia famílias tradicionais na rua como
Dona Sudária; o Valtério das bicicletas; o Cicinho, um dos primeiros motoristas
de táxi da cidade e o Seu Galimedes. Com o passar do tempo a rua se desenvolveu
e o município a dividiu em duas partes: do início ao meio passou a se chamar
Rua Benjamim Constant e, o seguimento de Rua Artur Bernardes. Nesta última foi
fundada uma pequena associação, que hoje se transformou num dos clubes mais
animados da cidade: o “Bando da Lua”, e nesta rua também está o esportivo do
Flamengo Esporte Clube.
Asfaltada e com grande comércio,
cresceu tanto a região que se desdobrou no Bairro São João. No lugar da pequena
capela, surgiu a majestosa igreja de Bom Pastor (atual Igreja São João). No
trajeto surgiram oficinas, escritórios, armazéns e prédios modernos, restando
pouca coisa da antiga Rua dos Pinheiros.
ORIGEM DOS NOMES: Benjamim Constant- um dos fundadores da
República do Brasil, professor e jornalista. Artur Bernardes- presidente do estado de Minas Gerais e da
República.
Fonte: Jornal Panorama, Ano III,
nº 62, Agosto de 1979.
Fonte: Jornal Panorama, Ano III, nº62, Agosto de 1979
RUA TAVARES DE MELO
Esta rua nasceu na época da Vila
de Queluz. Ela constituía um caminho acanhado em direção ao rio das Bananeiras.
Com o passar do tempo recebeu membros da colônia italiana, que se estabeleceram
ali e colocaram suas indústrias de latoeiros, caldeirões, tachos, bules, bacias
e vários artigos do gênero, que eram ali fabricados. Na fabricação dos
utensílios, suas forjas soltavam fagulhas vermelhas, e, devido às forjas, o
caminho foi batizado como Rua do Fogo.
Nobres famílias construíam suas
residências neste local, o que valorizava e embelezava a rua. Os Brandões,
Chaves e Souzas pra lá se mudaram, se destacando a família Tavares de Melo, com
sua grande força política e conceituado médico. Com o desenvolvimento da Rua
Afonso Pena, e também com a diminuição das forjas dos funileiros, o povo passou
a chamá-la de Rua de Baixo. A Sociedade Santa Cecília, fundada em 1886,
construiu sua sede nesta rua e os moradores locais ouviam os dobrados da banda
nas noites dos ensaios.
A Câmara Municipal instalou na
rua o seu açougue oficial, nesta rua também foi montado uma casa com o gabinete
dentário do famoso dentista e político Luiz de Souza, o “Seu Lulu”.
A rua foi calçada por pedras pela
municipalidade. Ela recebeu o nome oficial de Rua Tavares de Melo em homenagem
ao grande homem público e médico, morador do logradouro. A rua iniciava ao lado
do Fórum indo até a Travessia da Central, com o tempo foi encurtada e terminava
na antiga Pensão Formoso, onde hoje está instalada a B.M.G.
A Rua Tavares de Melo sempre foi
uma rua tradicional, com pessoas importantes como os advogados Dr. Antero
Chaves e Henrique W. de Abreu; o “Seu Lulu” e Zeca Brandão, homens públicos;
Dona Alexandrina, pianista; José Domingos Baêta, capitalista; além da Sociedade
Santa Cecília, marco de maior tradição. Nesta rua encontrava-se um ponto
pitoresco, o Beco da Fontinha, espécie de saída de emergência do campo do
Queluziano, hoje pertencente ao Meridional, e que tinha também água sempre
fresca e famosa.
Atualmente a rua guarda ainda um
requinte aristocrático. Lá está a redação do Jornal Panorama, advogados,
pianistas, elegantes casas comerciais e escritórios bem montados, sauna,
hospital e o Departamento de Educação e Cultura.
Resta pouca coisa das antigas
ruas “do Fogo” e “de Baixo”, salvo alguns casarões da época da vila.
Fonte: Jornal Panorama, Ano I, nº
47 – Abril de 1979.
PRAÇA TIRADENTES
A aldeia do Campo Alegre de Nossa
Senhora da Conceição dos Carijós, até por volta de 1740, se formava apenas pelo
antigo Largo da Matriz e pequenos inícios de ruas como a dos Barrancos, a de
saída para Congonhas do Campo, a da Chapada (que fazia parte da estrada da
corte – Vila Rica) e o antigo caminho das bananeiras (que dava para a velha
estrada que se dirigia à corte do império – Rio de Janeiro).
Neste local, o que mais depressa
se povoou foi o grande quadrilátero que ficava atrás da igreja Matriz, com as
residências dos fazendeiros e negociantes. Atrás da igreja passou a ser o espaço
de construções, formando com o passar do tempo, uma espécie de prolongamento do
Largo.
Há um registro que cita a Praça
nova em 1790 no “Alto do Levantamento do Pelourinho na Real Vila de Queluz”,
cujo texto relata que o Excelentíssimo Senhor Visconde General mandou levantar
o Pilourinho da referida Villa, com solenidade para inaugurar a nova praça, que
ficava no meio da Vila e era destinado para a Câmara e a igreja Matriz. As
pedras que formavam as bases do Pelourinho são as mesmas que se encontram ainda
hoje formando os degraus do chafariz da praça Barão de Queluz.
Na sessão da Câmara Municipal do
dia 09/05/1906, foi feita a nomenclatura das ruas da cidade e este local ficou
denominado Rua do Tira-Dentes, vindo do Largo da Matriz até a Capela do Carmo,
e as dimensões da praça naquele ano eram bem diferentes das de hoje.
Do livro “De vila Real de Queluz
à Conselheiro Lafaiete”, escrito por Antônio Perdigão em 1958, foi extraído o
seguinte trecho: “Outro setor de estrita ligação com a vida queluziana é a
praça Tiradentes, ali é um ponto culminante da vida da cidade, sendo palco de
festas religiosas, carnaval, comícios políticos, retretas de bandas de música e
até funerais. Está ligada à praça Barão de Queluz e é continuidade desta.
Nasceu como pequeno caminho de ligação entre o povoado e as rotas das tropas
que vinham de Itaverava. Os habitantes da vila procuravam fazer com que a praça
fosse continuação do Largo, tendo a igreja Matriz ao centro. ”
Em tempos idos foi o local
preferido para as personalidades residirem, uma das primeiras construções foi
uma casa de pedra, localizada na entrada da rua Brasil, que pertenceu à família
Alvarenga. No pátio desta casa, segundo relatam, foi guardado o material
destinado à construção da igreja Matriz.
A rua Tiradentes era o ponto
preferido do povo e da cidade. Na primeira esquina, atrás da Matriz, havia uma
grande casa, de puro estilo colonial, onde residia João Chysóstomo de Queiroz,
apelidado de “Seu Lalão”. Era chefe político, coletor, fazendeiro na região do
Morro da Mina e grande incentivador das novidades e benfeitorias para a vila e
a cidade.
No local onde havia a Drogaria
Pereira, no coração da praça, existia uma casa enorme, ali residia um dos
homens mais famosos de Queluz: José Albino de Almeida Cyrino, chamado de “Zeca
Albino”. Ele foi presidente da câmara por diversas vezes e construiu o prédio
onde funciona o Meridional Hotel. A velha casa do Zeca Albino foi transformada
em botica, depois, em pensão, em sapataria, em casa de bicicletas, em armarinho
até ser demolida, passando tempos depois a Drogaria Pereira.
Por volta de 1830 a Praça
Tiradentes recebeu um melhoramento necessário, a construção da cadeia local. A
construção foi demorada e foi necessário que a Câmara Municipal intervisse para
que se cumprisse o acordo feito. Neste ano foi pedido pela Câmara ao governo
provincial um empréstimo para tal construção e em 1866 foi feito novo
empréstimo pela municipalidade. Em 1867 a câmara pede à província um engenheiro
para a obra, que seria de dois pavimentos, sendo o térreo para a cadeia e o andar
superior para casa da Câmara. Terminada a cadeia, o fiscal do estado embargou a
construção da Câmara, houve protestos, mas nada adiantou e a Câmara ficou sem a
sua sede própria.
Ao entorno da cadeia foram
instaladas o armazém do Zeca Albino, pequenas oficinas de sapateiros,
barbearias e farmácias. O primeiro negociante que ali se estabeleceu foi o
português André Rodrigues, que construiu grande prédio comercial na esquina com
a rua Afonso Pena, onde hoje está instalado o restaurante “ Novo Horizonte”. A
casa do André foi uma das mais populares da época, ele era comprador de aves e
ovos e exportava-os para o Rio de Janeiro. Carroças carregadas de engradados
desciam à rua Afonso Pena com destino à estação ferroviária, e a esquina da
praça com a rua Afonso Pena foi batizada pelo povo de “ Esquina do André”.
Ali também funcionou o “Café Central” do
Juvenil Meireles, o bilhar do Álvaro zebral, a pensão São Geraldo, a sapataria
do Romeu Menezes e a Agência dos Correios na esquina da rua Comendador Lalão.
Neste lugar nobre também residiam o jornalista Dr. Castilho Lisboa, o
presidente da Câmara e chefe do executivo José Corrêa de Figueiredo, o médico
Dr. Moretzson Barbosa, o promotor em Queluz Dr. Bulhões de Carvalho, o advogado
Fábio Maldonado, além de outras personalidades. O tempo ia passando e a praça
tornando-se palco de grande diversidade de eventos, sendo que em 1917 foi
colocada a luz elétrica.
Na década de 20 já havia na praça
um jardim arborizado com agradável sombra nos dias ensolarados, onde aos domingos
as bandas Santa Cecília e Centro Operário faziam retretas que sempre animava e
enchia a praça. No antigo solar do Campolina ficava a redação do seminário
“Jornal de Queluz” e o Tiro de Guerra 405. Foi trazido também nesta década o Cinema
Central e junto ao cinema havia o Bar Brasil, de
propriedade do carnavalesco Braz Melilo Brandão. Era reduto do carnaval de rua
da parte alta da cidade, era reduto também do futebol, pois ali era o ponto de
encontro dos dirigentes e jogadores dos times da época, como o Vera Cruz, o
Brasil, o Flamengo, entre outros.
A partir da década de 30 a praça
começou a sofrer modificações, o governo progressista de Dr. Mário Rodrigues
Pereira sentiu entusiasmo e capacidade para construir novas praças, calçamentos
e reformas. Houve modificações também na área residencial e comercial, o senhor Benedito
Alves instalou a Agência Chevrolet, de vendas de carros, ao lado da agência foi
instalado um café, um bilhar com o nome “Bilhar do Mister”. A rua Brasil foi
aberta em 1934 dando uma feição diferente ao logradouro. Na casa do velho
Castelões, funcionário do fórum, o “Santinho” tirava fotografias de fatos e
paisagens da terra. Também nesta casa residia o José Nicolau, alfaiate e
caçador, proprietário da “Alfaiataria Leader”.
Em 1935 a praça foi modificada,
foi construído um belo e alto coreto, obedecendo o estilo oriental. A
inauguração foi noticiada pelo jornal “Queluz de Minas”, nº 72, de 03 de
janeiro de 1935: “A Sociedade Musical Santa Cecília assumiu o encargo de
promover a solenidade, a benção foi feita pelo vigário da igreja Matriz, padre
José de Oliveira Barreto e o prefeito Dr. Mário Rodrigues Pereira fez belo
discurso, inaugurando o coreto. (...)”
A praça continuou a ser o ponto
dos acontecimentos, ali se realizavam as procissões de Encontro durante a
Semana Santa, também era o ponto principal dos carnavais e de todos os tipos de
comícios. Havia pontos de táxis com os alegres motoristas Chico Bóia, Rupiado,
Mimi, Venâncio e outros; havia a carrocinha de sorvetes do Zé Pedro e o Cine
Central com seus filmes e seriados.
Na década de 40 a praça
embelezou-se com modificações na urbanização e arquitetura das casas. Em 31 de
março de 1940 foi inaugurada a Fonte Luminosa pelo prefeito Dr. Mário Rodrigues
Pereira. O belo ornamento foi encomendado ao técnico Antônio Corrêa Beraldo, de
Pouso Alegre. A benção foi dada pelo Monsenhor Mário Silveira. A fonte
constituía um lago de 8 metros de diâmetro, por 30 centímetros de fundo, tendo
ao centro um pedestal artístico, e possuía 7 grupos de projetores primários,
formando 14 desenhos de água, todos diferentes uns dos outros. A duração de
cada desenho era de 20 segundos, um total de 280 segundos até completar o
ciclo, a altura era variável, sendo o máximo de 7 a 8 metros. A projeção da luz
de cor era feita por 12 projetores, sendo 4 vermelhos, 4 verdes e 4 amarelos,
todos distribuídos e imersos no pequeno lago superior da fonte. Para o
funcionamento havia na praça um maquinário: um grupo eletrobomba centrífuga com
vazão de 18 mil litros de água por hora, motor de 3 H. P.
Na mesma época a praça ganhou um
abrigo para ônibus, era espaçoso e com boa estrutura, sendo que se tornou ponto
de encontro e por ele passavam os ônibus que subiam e desciam as ruas da
cidade. À medida que a cidade crescia foram surgindo coisas novas na praça como
os pontos de táxis. Perto da praça, na esquina com a rua Afonso Pena, foi
inaugurado o majestoso prédio da prefeitura municipal. A casa que pertenceu aos
Campolina foi demolida, e em seu lugar ficou um muro e botecos sem gosto, dando
uma impressão ruim à praça. Passaram-se os anos e com a nova urbanização
desapareceram os canteiros bem tratados, foram retirados os postes baixos com
os globos brancos que causavam grandes efeitos, a fonte quase parada e a
demolição do ponto de ônibus. É o progresso, inevitavelmente destruindo as
memórias e a história.
Fonte: Jornal Panorama, Ano II,
Setembro e Outubro de 1979
BAIRRO SANTA MATILDE
A história do bairro Santa
Matilde está dividida em duas etapas:
Na primeira etapa o bairro
recebeu o nome de Bananeiras, isto porque neste local ficava a Fazenda das
Bananeiras, que pertencia ao Barão de Suassuí, que era dono de outras
propriedades também. As terras da fazenda atingiam quase todo o vale e parte do
morro do Alto dos Pinheiros. Com a morte do Barão a propriedade passou para o Capitão
Antônio Furtado de Mendonça e depois de certo tempo, com a morte do Capitão,
Maria José Furtado de Mendonça Amaral e seu esposo João Evangelista do Amaral
herdaram a fazenda.
A segunda etapa iniciou-se na
década de vinte com a expansão do bairro através das fábricas. Neste local foi
instalada uma fábrica de laticínios – Companhia Santa Matilde de Laticínios –
que produzia queijo, manteiga e outros produtos derivados. Essa Companhia,
tempos depois, começou a produzir tijolos, esquadrias, forros, móveis, engenhos
e arados, além de representar o cimento “Excelsior” na região. Nesse período começaram
a surgir as primeiras casas de operários junto à antiga estrada “União
Indústria”. Nesta década a Companhia ainda iniciou a exploração de minério e
construiu uma estrada de ferro que ligava Bananeiras a Jurema, Cocoruto. A
Estrada de Ferro Santa Matilde começou na pequena estação das Bananeiras, no Km
460.503. Os engenheiros Dr. Gespacher e Chapuís trabalharam na obra.
Em maio de 1926 o bairro recebeu
a visita do presidente do Estado, Dr. Melo Vianna, que foi recebido pelo
presidente da Companhia Dr. Pimentel Duarte. Nessa ocasião ocorreu a inauguração
dos cursos “Arthur Bernardes” e “Melo Vianna”. Houve a participação da banda de
música Santa Cecília, que tocou o Hino Nacional. O Presidente do Estado e da
Companhia, juntamente com outros membros da comitiva foram visitar a mina de
Jurema. Foi utilizado pelo Presidente do Estado um automóvel Ford, com pneus de
metal adeptos aos trilhos da estrada de ferro e o restante da comitiva utilizou
uma prancha. A viagem durou 45 minutos e foram percorridos 24 Km.
Em 1936 foi instalado no bairro
um Posto de Monta do Exército, chamado pelo povo de “Remonta”. Neste local
criavam-se cavalos de raça e ali havia instalações diversas. O departamento
militar trouxe oficiais e diversos soldados que impulsionaram o local com a
construção de uma das melhores quadras de voleibol da cidade e também melhores
times. A chamada “Rua Nova” abrigava a residência dos oficiais e o alojamento
dos diversos soldados. O primeiro armazém daquele local pertenceu ao Sr.
Francisco Ribeiro e o primeiro bar ao Sr. Joanico. As primeiras residências do
bairro pertenceram aos Srs. Antônio Aureliano, Benedito Camargo, Jaime Euzébio,
Manoel Marques, José Ferreira da Costa, Izidoro e Anestor Augusto.
Havia no bairro uma antiga e bem
cuidada capela que foi construída por José Apolinário Sobrinho, Lebenício dos
Anjos e João Rosa de Almeida. A capela cujo padroeiro é São Vicente de Paulo
contou com a contribuição do carpinteiro e marceneiro da Cia Santa Matilde,
Anestor Augusto, que fez o altar e as talhas. Atualmente essa capela é zelada
pela Irmandade de São Vicente de Paulo.
O desenvolvimento do bairro
deu-se a diversos fatores, sendo um dos principais a expansão do trabalho com a
fabricação em grande escala de vagões ferroviários e grande quantidade de
operários. A seguir o bairro foi loteado com ruas e praças, o que favoreceu
para que inúmeras famílias mudassem para lá. Desse modo o comércio cresceu e
evitou-se que os moradores tivessem que ir ao centro para fazer compras. Uma
das herdeiras da antiga Fazenda das Bananeiras, Izabel Furtado do Amaral,
loteou uma grande área e transformou-a no progressista bairro Amaral, o que fez
aumentar o número de habitantes nas proximidades do bairro Santa Matilde.
No local havia procissões que
saiam da capela, com os andores cuidadosamente enfeitados por Sr. Sebastião da
Silva. Então surgiu a ideia de se construir uma igreja maior no local. O então
Cônego Moreira procurou o bispo Dom Oscar, que veio ao local e deu a licença
para a construção, tendo o padre Cornélio escolhido o nome de Bom Pastor para a
nova matriz e paróquia. A área da capela era pequena, assim o Sr. Anestor
Augusto doou um lote para aumentar a área e dessa forma o problema foi
resolvido. O mestre da obra foi o Sr. Antônio Ferreira Alves Filho e a imagem
do Bom Pastor foi doada pela família de Anestor Augusto, que adquiriu-a em São
Paulo e ficou guardada por muito tempo no lugar em que foi batizado, na igreja
de Buarque de Macedo.
Hoje o bairro Santa Matilde
possui o Colégio Luiz de Melo Viana, três campos de futebol, a Sociedade
Musical Santa Matilde e vários comércios. Duas linhas de ônibus servem o bairro
e o poder municipal empenha-se em melhorias para o bairro. A origem do nome se
deve à Companhia Santa Matilde que há mais de meio século opera no bairro com
sua grande indústria.
AVENIDA FURTADO
Em 1883, quando chegaram os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II, começou a surgir o pequeno Bairro de Lafayette, que é hoje a parte baixa da cidade. Inicialmente este bairro era composto pelas ruas Marechal Floriano, Dr. Campolina, Wenceslau Braz, Várzea de São Sebastião, Olaria e Areal.
Tempos depois surgiu um caminho
que completava toda a área plana do local, que ligava a chácara do Sr. João
Lopes Franco ao centro populoso e comercial. Até meados de 1900 havia poucas
casas na Avenida Furtado. O desenvolvimento veio através do Clube Prado Carijós
e a prática esportiva da primeira corrida de cavalos ali realizada. O jornal
“Gazeta de Queluz”, de 02/09/1909 destacou a organização da corrida pelo clube.
O Clube Prado Carijós ainda não tinha
suas obras totalmente construídas quando sua diretoria resolveu inaugurá-lo em
29/08 com a corrida de cavalos. No horário marcado estavam ali enorme número de
concorrentes e nas arquibancadas grande número de famílias da sociedade, todos
animados em assistir este gênero de esporte. Este evento foi realizado pela
diretoria do clube, especialmente pelo Sr. Capitão Pacífico Vieira e Ernesto
Pinheiro, que não mediram esforços e tiveram os êxitos alcançados.
Desta época em diante a região
ficou conhecida por Bairro do Prado. Foram surgindo novas casas, com a parte
baixa da cidade em grande desenvolvimento.
No local onde teve as corridas a Câmara Municipal projetou a Avenida
Furtado e em 1915 o Grupo Espírita Paz construiu ali sua sede. Surgiram belas
residências e dinâmico comércio, de forma que a avenida funcionava ligando o
Centro ao Bairro Carijós. Nesta avenida a Loja Maçônica Estrela de Queluz
construiu seu majestoso edifício/sede; outras entidades como a Escola Estadual
Manoel Lino funcionaram ali também.
Jornal Panorama, Ano I, nº 49- Maio de 1979
BAIRRO ROSÁRIO
O bairro Rosário surgiu quando já havia a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e as Capelas de Santo Antônio e do Carmo. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi fundada com o intuito de se construir uma Capela em louvor a esta santa. No alto do morro foi levantado um cruzeiro de madeira, com dia de festa, inclusive com missa. O Cruzeiro ficou lá por longo tempo, porém a capela nunca foi construída.
O bairro tinha característica
bucólica, era residencial, com ruas calmas e vizinhos camaradas; ligava o
centro comercial ao bairro Fonte Grande. O local onde foi colocado o Cruzeiro
passou a se chamar Alto Capenga, devido ao apelido de um velho morador dali. Aí
havia uma casa velha com várias portas e janelas na frente e um quintal
arborizado, onde as crianças se divertiam.
Por volta de 1917 residia na rua
Assis Andrade um dos diretores da Sociedade Musical Santa Cecília, de forma que
os ensaios da banda eram realizados ali por diversas vezes. Uma das mais
antigas fábricas de violas ficava no bairro Rosário. A fábrica pertencia a José
de Souza Salgado, cujas violas eram famosas não só no estado de Minas Gerais,
mas em outros também. Os irmãos Salgado, João e Eduardo, mantiveram a fábrica
em atividade no bairro por longos anos.
Residia neste bairro o Dr.
Antônio Cândido de Assis Andrade, famoso médico e um dos fundadores da Santa
Casa de Misericórdia, atual Hospital Queluz. No local onde funciona a Câmara
Municipal, funcionou por muito tempo a sede do Posto de Higiene da cidade.
Também já houve neste bairro, na década de 20, um dos melhores campos de
futebol. No subsolo deste bairro nasce a água que abasteceu por mais de um
século a conhecida Fonte Grande, gerando ainda uma nascente de água límpida e
fresca, que corria numa bica na Rua Melo Viana.
Inicialmente a Rua Assis Andrade
era conhecida como Rua do Rosário, pois era a única que lá havia, de forma que,
as outras atuais ruas, na época, eram bem pequenas em becos estreitos. A rua
Nogueira Coelho, conhecida antigamente como Beco das Escadinhas, ligava a rua
Afonso Pena ao Alto do Capenga.
Atualmente o bairro continua
sendo residencial e seu comércio é formado por pequenas casas comerciais, bares
e quitandas. Neste bairro já existiu a sede da redação do jornal Correio da
Semana, cujo último diretor, Wilton Andrade Souza, montou oficinas na rua Assis
Andrade. Em 1979, outro jornal, O Alerta, é editado na mesma rua.
No velho sobrado que faz esquina
da rua Assis Andrade com a Horácio de Queiroz, residia o Sr. José Teixeira de
Araújo, dentista, e que foi diversas vezes delegado de polícia da cidade, cujo
filho Murilo, caiu da torre da Igreja Matriz na década de 30.
O bairro atual teve as ruas
calçadas, de forma que, desapareceram os antigos becos e vielas. Assis Andrade,
Barão de Coromandel, João Pessoa, Pimentel Salgado, Delfo Biagioni, Souza
Salgado e Aprígio Andrade são algumas das ruas acolhedoras do bairro. Também na
rua Assis Andrade, foi instalado no nº 230, em 1976, a Biblioteca Antônio
Perdigão – Museu e Arquivo da Cidade, onde ficou até janeiro de 1979.
Jornal Panorama, Ano II, nº 54- Junho de 1979
PRAÇA SÃO SEBASTIÃO
A praça São Sebastião está
localizada no bairro de mesmo nome, abaixo das linhas férreas, fazendo divisas
com as ruas Wenceslau Braz, Pacífico Vieira, Barão de Pouso Alegre, Gastão
Victorino de Souza e Luis Leite. Recebeu este nome em homenagem ao padroeiro da
paróquia, erguida no alto da praça.
O dia 20 de janeiro é uma data
significativa para a comunidade que frequenta a paróquia, pois esse dia é
consagrado ao glorioso mártir São Sebastião. Antes da descrição da praça e suas
origens, descreve-se uma pequena biografia do patrono da praça e padroeiro do
bairro. Em sua imagem vê-se um homem viril, robusto, amarrado em uma árvore e
cravado de flechas no braço e no peito, e sob influência desta imagem,
transportemo-nos ao ano 284 da era cristã, época em que a dinastia dos Césares
tinha o domínio do mundo. Nesta época o capitão Sebastião era o chefe supremo
da polícia do palácio imperial, admirado pelo imperador, pelos nobres e por
toda a cidade de Roma; de caráter exemplar, era fiel ao Rei, tinha méritos
militares, mas acima de tudo destacava-se por sua personalidade e dotes
espirituais. Nasceu na cidade italiana de Narbona e viveu a infância em Milão.
Pertenceu à ilustre família e desde menino tinha propensão para as coisas
divinas. Na Roma dos Césares havia a perseguição aos cristãos, com câmaras de
tortura nas praças públicas. E somente eram libertados aqueles que renunciassem
a sua fé. Gozando de sua competência junto a César, o capitão Sebastião cumpria
suas obrigações como militar e seguia o Cristianismo com toda a pureza. Em
reuniões secretas, ele pedia aos fiéis que não renunciassem e seguissem amando
quem derramou sangue para nos salvar. Após certo tempo o capitão Sebastião foi
traído por um apóstata que
contou ao imperador Diocleciano tudo que ocorrera. Intimado por César, o
capitão Sebastião confirmou tudo e reafirmou sua fé, pedindo ao soberano que se
unisse a sua religião. Diocleciano por sua vez, revoltado com o capitão,
ordenou à guarda palaciana que amarrassem Sebastião a uma árvore e o matasse a
flechadas. O corpo do mártir foi dilacerado por flechas, e os arqueiros,
supondo a morte da vítima saíram do local, com ideia de enterrá-lo no dia
seguinte. A altas horas da noite uma mulher cristã foi buscar o corpo de
Sebastião para enterrá-lo com práticas religiosas, porém notou que ele ainda
respirava, e, retirando as flechas e desamarrando, levou-o para casa. Tempo
depois, já curado, e contra a vontade dos cristãos, voltou ao palácio para
pedir humildemente a César o perdão aos cristãos. Aí foi recuado e morto a
pauladas.
A praça São Sebastião foi criada
no governo de Dr. Mário Rodrigues Pereira, que construiu um dos mais belos jardins
do interior do Brasil, e o apelidou de “Quitandinha”, alusivo ao famoso hotel
Quitandinha da cidade de Petrópolis. A praça, com exuberante urbanização,
possuía em frente um bar com mesas e cadeiras, onde os fregueses eram servidos
ao ar livre nos dias de calor e noites de luar. O dono era o espanhol Digno
Esteves Gonzáles, figura que participava dos grêmios teatrais “São Sebastião” e
“Soloni”; também participou do jornal “O Eco”, que circulou na década de 1950.
O bar possuía serviço de alto falante que tocava músicas, as quais eram pedidas
por rapazes e moças a seus pares. A praça era maior e mais moderna que
atualmente, possuía um encantamento com árvores frondosas, um grande aviário
com pássaros raros e um jardim zoológico com vários animais como jacaré,
capivara, veado, cágados, pacas, pombos, bicho-preguiça, mico-estrela, gavião,
aves e outros mais. Anos depois todos os animais morreram, talvez pela elevação
do custo de vida, todavia o jacaré sobreviveu à carestia, porém, sentindo-se
depressivo, resolveu dar umas voltas pela vizinhança, e com seu faro jacarino,
descobriu o Córrego da “Olaria”, foi banhar naquele córrego e não se teve mais
notícias.
Neste local, na década de 1940,
foi construído exuberante e majestoso jardim na Praça São Sebastião, onde
anteriormente existia uma várzea pertencente ao Sr. Pacífico Vieira (avô do
Toninho Pires, chefe dos escoteiros). Era apelidado de “Varginha”, onde a
molecada jogava bola. À noite a “Varginha” era local de marmanjos, ou seja, de
uma quadrilha juvenil que se reuniam para assaltar hortas, além de travarem
brigas com quadrilhas de outros bairros. A quadrilha de Varginha era mais
temida devido ao porte da turma, que tinha o “Zé da Liquinha”, o “Tonho da Dona
Maria Carneiro”, o “Tião da Dona Maria” e outros. A rivalidade das quadrilhas
da parte baixa com as da parte alta acontecia principalmente na “Semana Santa”,
de forma que “o pau comia”, pois até os coroinhas participavam da briga, já que
a cidade tinha somente as igrejas Matriz de Nossa Senhora da Conceição e de São
Sebastião, sendo que as procissões iam de uma para a outra igreja. Na Varginha existia
a Ferraria dos Freitas, sendo o mais famoso deles o “Chico Ferradura”; e ao
lado existia a padaria “Flor de Minas”, do Sr. Juca de Souza. Este último e sua
esposa Dona Lolô eram pais de vários artistas: José de Souza Júnior, pioneiro
em rádio-amadorismo na cidade, atuando
também na rádio Inconfidência; o cronista Rolando de Souza que atuou na rádio
Clube local, realizando programas de auditório, ficando famoso; a professora e
pianista Lília de Souza; os artistas de teatro amador Irma, Gegena e Vera
(gêmeas), Míriam, Ruth e o próprio Ronaldo; o pianista e organista Vicente de
Souza e o caçula Chiquinho de Souza que é cronista e locutor da rádio Clube. Na
antiga Varginha, atual praça São Sebastião, existem ainda alguns descendentes
de famílias como os do político, fazendeiro e jornalista Sr. Zeca Chaves, os do
Sr. Hernani Nunes, os do Sr. Agenor Ferreira, os do Sr. José Cardoso e o Sr.
Joaquim Amaral, que tocava “tarol” na saudosa Banda Centro Operária. A igreja Matriz
de São Sebastião era antes uma capela e a construção da igreja foi na década de
1930 pelo Monsenhor Moreira, pároco da matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Antônio José Ferreira ficou um tempo à frente da igreja e de uns tempos pra cá,
tem como cooperador o seu irmão Padre Ermano José Ferreira. Sob o comando de
Pe. Antônio foi construída ampla escadaria de acesso e grandioso salão
paroquial, com salão de festas, boa música, boa ventilação, palco de
apresentação teatral contendo bastidores e camarim, além de cinema, no qual
eram exibidos filmes, sendo operador cinematográfico, o Leone, que morreu bem
jovem. No salão paroquial foram encenadas muitas peças teatrais, ao som do
flautista Ito Alves, do clarinetista Ernane Machado, da violinista Odete
Capichoni, do violinista Gugu e dos atores Terezinha (casada com Odir Martins),
Zilá Andrade, Ruth da Dona Zeca, Lia, Judith Borba, Elaine (casada com Wilson
da Sapataria Futurista), Dr. Arnaldo Penna, Avelina Maximianos e Geni (esposa
de Juca Biagioni). Quem organizou e dirigiu o Grêmio Teatral São Sebastião foi
Dona Francisca (casada com o Geraldo, irmão de Pe. Antônio).
Antes da construção do jardim da
praça, o local era todo gramado e tinha o apelido de “Varginha”, servia como
palco de parques de diversão e de circos. Ali acontecia várias apresentações
com artistas de teatro, acrobacia, malabarismo, trapézio, globo da morte,
picadeiro com animais, lutas livres, palhaçadas e encenações de peças. Isto era
o divertimento do povo, pois pouca gente tinha rádio e TV em casa. Dos grandes
parques, o que mais se destacou foi o Shangai, que tinha montanha russa,
tira-prosa, chicote, polvo, roda gigante, trem fantasma, pista de automóveis
elétricos e outros.
Minha infância aconteceu
brincando na Varginha, pois meu pai tinha uma casa do lado direito da
igreja-matriz de São Sebastião. (Rua Barão de Pouso Alegre / São Dimas)
Fonte: SOUZA, Gilberto Victorino de
- Jornal Panorama, Ano II, nº86 - 20/01/1980
PRAÇA SÃO SEBASTIÃO PARTE II
Era a maior e melhor casa do novo
bairro de Lafaiete. Localizada em pequeno monte, de lá avistava-se toda a
encosta da velha cidade, passando pela grande várzea até o local onde estavam
os trilhos da estrada de ferro, recém-chegada à Queluz.
Ali ficava a chácara do Pacífico Vieira, que veio da Fazenda do Pequeri
de baixo para a Vila de Queluz em 1962. Aqui, ele adquiriu a área de toda a
várzea e a da atual Rua Dr. Campolina, Wenceslau Braz, Luis Leite e parte de
Olaria. A residência de Pacífico Vieira serviu, no futuro, como hospital com o
nome de Hospital São Sebastião. Depois de paralisado, o hospital cedeu lugar a
uma delegacia e alojamento de soldados, de forma que este lugar ficou conhecido
como Várzea do Pacífico naquela época. Em 1921 ficou conhecida como Praça do
Pacífico Vieira e nela o Guarani Esporte Clube foi fundado em 7 de setembro de
1910. Na década de 1920 a multidão
comparecia à praça para assistir os jogos e nos fins de 1921 o Guarani já
possuía seu novo campo no alto da Vista Alegre.
Pacífico Vieira, homem de visão
progressista, notou a influência da estrada de ferro a partir de 1883 e anteviu
o crescimento do bairro junto às linhas férreas. Loteou e vendeu grande parte
de seus terrenos, permitindo que a Câmara Municipal dividisse a grande várzea
para abrir novas ruas, desta forma surgiram as ruas Dr. Campolina e Wenceslau
Braz, sendo construída na esquina desta última rua a casa do Sr. Gerônimo de
Oliveira.
Em 1905, foi construído pelo
povo, na base do novo bairro uma capelinha, na qual raríssimas vezes havia
missa. Em 1909 o Pe. Antônio começou a trabalhar em Lafaiete e com muito
trabalho e ajuda do povo ampliou a capela. Este padre foi substituído em 1913,
porém em 1917 voltou a ocupar o posto e fez algumas modificações, introduzindo
uma pequena casa paroquial. Agora o local passava a se chamar Várzea de São
Sebastião e já estava cheia de residências. Em uma esquina estava o Freitas,
que tinha uma ferraria e fabricava ferraduras e foices, em outra esquina ficava
a tradicional Padaria Flor de Minas, do Sr. José de Souza. Nesta Várzea se
armavam circos e parques, era o ponto predileto para peladas de futebol, soltura
de pipas e reunião dos garotos da parte de baixo. A Várzea ficou mais
movimentada com a construção do Grupo Escolar Pacífico Vieira, com a Sociedade
Beneficente Italiana, com o Clube dos Boêmios, com a fábrica de cervejas e
ainda com a ampliação da capela e sua elevação à Matriz.
Na década de 1940 o então
prefeito Dr. Mário Rodrigues Pereira resolveu urbanizar o local e ali surgiu um
belo jardim, arborizado e moderno. Nele foi feito um jardim zoológico com
pequenos animais e muitas aves. Aí as crianças iam com seus pais aos domingos e
este local tinha o nome de Praça São Sebastião. Nela também tinha sorveteria
com mesas ao ar livre, o que aumentava o público jovem neste local. Embora as
placas indicassem o nome oficial de Praça São Sebastião, o povo a batizou de
Quitandinha, isto devido a fama do grande hotel Quitandinha de Petrópolis.
Quase ninguém pronunciava o nome da praça, a não ser Quitandinha. Ainda hoje,
com a imponente Matriz, com seu jardim, sem as primitivas árvores, sem aves,
animais, sorveteria e música, ainda a chamam de Quitandinha. Mas também nesta
praça ainda residem pessoas da velha guarda, as quais acompanharam as
modificações da região. Talvez olhem pelas janelas e, cheios de saudade da sua
Várzea do Pacífico, sua Várzea de São Sebastião e sua Quitandinha, hoje tão
mudada.
Fonte: SOUZA, Gilberto Victorino
de - Jornal Panorama, Ano II, nº 52 - 27/05/1979
ALAMEDA 2 DE NOVEMBRO - CEMITÉRIO
Não se pode separar a história da atual Alameda 2 de Novembro da história do cemitério. A Alameda surgiu com a instalação do “Campo Santo”, no alto da colina do antigo pasto que foi do Cel. José Albino de Almeida Cyrino (Zeca Albino).
O primeiro registro que se tem
sobre a construção do cemitério está no livro 8, página 182, ocasião em que
ocorreu uma reunião na Câmara Municipal em 28/09/1865, com representação do
pároco da vila, pedindo auxílio da Câmara para construir um cemitério, de forma
que, o cemitério, dentro e no adro da igreja, já não suportava mais defuntos,
além de ser prejudicial à saúde dos frequentadores do local. A Câmara pediu
ajuda ao governador da Província enviando a cópia da petição do pároco. Em
31/01/1866 foi lido na Câmara o ofício enviado pelo governador, o qual afirmou
não ser possível construir o cemitério devido a seguinte ordem declarada: “Só
poderá ser construído novo cemitério se nele se reservar área necessária para
que nela a igreja indique os que ali devem ser enterrados por estarem impedidos
de serem sepultados em terreno sagrado”; isto é, dentro do próprio cemitério.
Em 1866, o vigário Souza Barros,
conseguiu como doação do Cel. Zeca Albino, uma área de 2.763 m², no topo da
colina, para que ali se construísse o cemitério. O vigário e a Câmara tiveram
dificuldade em construir, pois na base do morro havia uma casa, justamente no
local que passaria a rua para acessar o cemitério. O proprietário do imóvel,
por sua vez, negou a liberação, mas a situação foi resolvida com a
interferência do Barão de Queluz. Apareceu outro problema, o Sr. Antônio Aleixo
Alves Cyrino, cercou e fechou o caminho de acesso ao cemitério, e foi movida
uma ação contra ele pela Câmara, obrigando-o a desmanchar a cerca e deixar o
caminho livre.
Em 1887, foi colocado um grande
cruzeiro na entrada, onde fica o portão principal, neste dia houve uma missa e
benção no local. Em 6 de janeiro de 1887 foi feita a inauguração do cemitério e
neste mesmo dia o jovem Adolfo Albino de Almeida Cyrino, filho do Cel. Zeca
Albino, foi o primeiro a ser ali sepultado.
Naquela época surgiu a nova rua:
a Subida do Cemitério, que era íngreme, com terra vermelha e barrenta em dias
de chuva. Ao pé da rua passava o antigo Caminho das Bananeiras, antiga Rua dos
Pinheiros, hoje atual Rua Benjamin Constant. À esquerda estava a velha Capela
do Carmo, a terceira capela construída na cidade e que tinha fama de mal
assombrada. Ninguém queria morar perto do cemitério, pois era um local escuro,
com igreja cheia de lendas e a rua dos Pinheiros com barrancos sombrios à
noite. Mas houve um corajoso que quebrou esse tabu e construiu no início da
subida algumas casas e habitações simples cobertas de capim.
Entre os primeiros moradores
estava o popular “Seu João”, que era fabricante de espanadores, que eram
produzidos com rabo de cavalo e eram vendidos em grande quantidade na cidade. A
tabela de preços era da seguinte forma: espanador com rabo de cavalo do “Seu
João” custava dois mil réis, e espanador com rabo de cavalo do freguês custava
mil réis.
José Bento era o coveiro do
cemitério e morava numa pequena casa na subida da rua. Dizem que bebia
bastante, e embora morando perto e trabalhando no cemitério, passeou bastante
pela cidade antes de ser enterrado. Morreu à noite no porão de uma casa ao lado
da Capela do Carmo. Encontrado pela manhã, foi colocada em uma padiola (espécie
de maca) e levado para a capela do cemitério, aguardando um caixão. Alguém da
família não gostou que o corpo ficasse na capela do cemitério e conseguiu que o velório
fosse na Capela do Carmo. Já dentro do caixão, o corpo de José Bento foi levado
para a Capela do Carmo, onde foi feito o velório, e em seguida foi levado para a Matriz
para que a alma fosse encomendada; e depois te todo o ritual voltou pela rua
barrenta e escorregadia para ser sepultado.
Neste local morou também uma
família alegre, que tinha diversas irmãs, era a família de Dona Júlia e suas
filhas Maria, Esmeralda e Julieta; estas eram bonitas e alegravam as festas da
Capela do Carmo e das adjacências. Faziam parte do cordão carnavalesco da
Sociedade Musical Santa Cecília, “o cordão cheio da vida”, que trazia grande
alegria a todos.
Anos depois, a subida do
cemitério foi encascalhada durante o governo do Dr. Narciso de Queiroz, e
assim, nos enterros e dia de finados, o povo já não escorregava na lama. Novas
pessoas, que desconheciam a história daquele local foram ali morar e o
cemitério ganhou nova fachada, no local do antigo portão. Nesta rua está o “Lar
de Maria”, com o trabalho de caridade para os órfãos. A rua foi asfaltada no
governo de Dr. Camilo Prates dos Santos Júnior, contando com modernas
construções que nada lembram a antiga subida do cemitério, hoje chamada Alameda
Dois de Novembro, em alusão ao Dia de Finados.
Jornal Panorama, Ano II, nº 81- Dezembro de 1979.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.